Por Pai Leonardo Guimarães
Caboclo Tupinambá é um espírito singular que personifica
como poucos o Orixá ao qual pertence e representa (Oxóssi). De humor constante
e inabalável, é firme e combativo sem deixar de ser alegre e carinhoso. Sábio,
seguro, paciente e carismático, está presente em quase todas as boas casas de
Umbanda do Brasil. Ou como ele mesmo diz, Tupinambá é como o bambu: forte e
flexível, sabe se vergar e por isso não pode ser quebrado.
Eu tenho a honra de trabalhar com ele, e assim já se vão
vinte anos de parceria e confiança com esse maravilhoso Caboclo, que é meu Pai
de Cabeça*. Com ele aprendi tantas coisas que hoje não sei mais separar sua
influência em minha ideologia, meus princípios e até mesmo em minha
personalidade.
É assim na Umbanda, a gente vai se misturando se misturando
e quando vemos, graças a Deus, já não somos mais a mesma pessoa. Sua maneira de
pensar é extremamente otimista e para ele tudo sempre tem uma perspectiva
positiva. Tupinambá ensina que a vida é como um rio, e como tal é viva e nunca para.
Ele nos mostra que quando deprimimos, quando estamos desacreditados em relação
à vida, é porque somente estamos desligados de seu fluxo. Basta voltar ao rio e
a renovação ocorrerá quando menos percebemos.
A falange de Sr Tupinambá é imensa, o que não é de se
estranhar se considerarmos o contingente de indivíduos dessa nação indígena que
estiveram encarnados no Brasil do século XVI (cujo tronco ocupava quase todo o
litoral do país). E é essa grandeza que faz essa linha de Umbanda ser tão
respeitada, seja pelos amigos, seja pelos inimigos. Conhecidos por sua
potencialidade guerreira, os Caboclos Tupinambás, ironicamente, conseguem como
poucos evitar a guerra aberta contra falanges negativas, pois ninguém quer,
senão em último caso, desafiar um povo tão forte, quantitativo e aguerrido.
Assim, por seu próprio potencial de "vencer demanda", essa linha de
Oxóssi é muito requisitada para alcançar as soluções "diplomáticas"
que evitam o embate direto com o baixo astral. E ainda que isso eventualmente
não se faça possível, eles estarão lá com seus valentes guerreiros para
garantir a vitória do bem sobre o mal no plano astral brasileiro.
A energia desses Caboclos, quando chamados nos terreiros, é
intensa e muito agradável. É tão vibrante a presença deles que quando seu ponto
é cantado é comum ver vários médiuns incorporem ao mesmo tempo. O chacra
cardíaco se expande e se agita fortemente, fazendo o médium postar-se de forma
bastante altiva ao final da Curimba*. Aliás, a Curimba é outra de suas
características distintivas, marcada por uma sessão de giros continuados que,
se são muitos, ao final não deixam qualquer tontura no médium.
O espírito que, especificamente, tomou-me como cavalo, tem
como principal roupagem essa que aparece na ilustração acima, feita na prancheta
da talentosa filha de Iansã no TPM, Fran Falsoni*. Penacho predominantemente
alaranjado de penas longas e brilhantes, colar de ossos, braçadeiras de corda
natural e uma pele de onça sobre as costas. Corpo alto e atlético, cabelos
longos e um grande alargador de orelha feito de bambu. Assim ele se apresenta
normalmente, mas em ocasiões festivas usa um cocar enorme que vai até os pés e
pode ser verde, alaranjado ou colorido. Já quando está em trabalho propriamente
dito, sua indumentária muda completamente, assim como suas feições ficam mais
marcadas e rústicas. Nessas situações sua fala fica mais difícil de ser
compreendida (predominando o tupi guarani sobre o português), surgem mais
adereços no rosto, em especial um grande osso atravessando o nariz, além de
pinturas pelo corpo. Por fim, a outra forma de apresentação que conheço dele
(e, sinceramente, não faço questão de que ele a use...) é quando está em guerra
(demanda). Aí é o seguinte: uma pena preta na cabeça, um grosso traço de tinta
preta sob os olhos, dobro de tamanho, as armas e nada mais.
Sr. Tupinambá está sempre acompanhado, seja por seus
guerreiros, suas crianças, suas caboclas curadoras ou pelos velhos pajés
feiticeiros da tribo. São incontáveis trabalhadores espirituais que permitem
que essa linha seja eficiente em quaisquer tipos de trabalhos (demanda, cura,
energização, equilíbrio, psicologia...). E não posso deixar de mencionar seus
inseparáveis animais: as jiboias, as onças e os javalis. Sempre com ele os dois
primeiros, fazem um trabalho único e precioso. As cobras limpam a sujeira do períspirito
das pessoas e do ambiente da gira, as onças protegem e combatem o que é mais
grosseiro e animalizado. Javalis são chamados quando o buraco é mais embaixo.
A quem conhece Caboclo Tupinambá espero ter colaborado com
um pouco mais dessa entidade tão conhecida e importante da corrente astral de
Umbanda. A quem não o conhece ainda, e estiver a precisar de força, proteção,
alegria ou de uma simples sensação de paz e bem-estar, experimente cantar
assim: "Estava na beira do rio sem poder atravessar, chamei pelo Caboclo,
Caboclo Tupinambá...Tupinambá chamei, chamei tornei a chamar, êah". Se
pode tornar a chamá-lo, mas precisar não precisa. Com certeza ele já estará
presente.
Se Caboclo Tupinambá pudesse ser definido em uma frase,
seria essa:
"Grande Pai Caçador de Almas".
Abraço Fraterno a todos, e Saravá!
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O termo 'tupinambá' provavelmente significa "o mais
antigo" ou "o primeiro", e se refere tanto a uma grande nação de
índios, da qual faziam parte, dentre outros, os tamoios, os temiminós, os
tupiniquins, os potiguaras, os tabajaras, os caetés, os amoipiras, os tupinás
(tupinaê), os aricobés e um grupo também chamado de tupinambá. Entretanto,
normalmente, quando se fala em tupinambás, está-se a referir às tribos que
fizeram parte da Confederação dos Tamoios, cujo objetivo era lutar contra os
portugueses, também conhecidos como 'perós'. (Fonte: Wikipédia; verbete
"Tupinambás")
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*Pai de Cabeça: espírito masculino que, na Umbanda, pertence
ao mesmo Orixá masculino que o médium e é o responsável pelo caminho desse na
religião.
*Curimba: dança vibracional característica de cada entidade,
realizada sobretudo no momento em que chegam no terreiro.
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Por CLAUDIA BAIBICH
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