Em abril de 1962, a sessão religiosa daquele dia transcorria
com toda normalidade, no templo da Associação de Pesquisas Espirituais Ubatuba.
Em dado momento, ali chegou um grupo de pessoas que pela primeira vez visitava
a Casa Dona Eulália apesar de não ser adepta da doutrina umbandista, fora
consultar o Caboclo Ubatuba, fazendo-se acompanhar de seus familiares, na
última tentativa de localizar o filho Rodrigo de apenas dez anos, desaparecido
havia mais de uma semana de sua residência. Contou à Entidade já haver
percorrido todos os hospitais da região, delegacias de polícia circunvizinhas,
juizados de menores, casas de parentes e amigos e até o necrotério do I.M.L.,
sem lograr qualquer êxito.
O delegado, presidindo o caso, após realizar intensas buscas
e investigações sem nenhum sucesso, havia declarado que pela sua experiência em
fatos semelhantes, o menor só poderia estar morto em algum matagal, vítima
talvez de algum estuprador. As esperanças da mãe haviam se esvaído e já estava
até conformada com aquela suposição, mas era necessário encontrar o cadáver e
isso não havia acontecido.
O Caboclo, com a calma característica de sempre, fitou-a de
cima a baixo, virou-se para o pajé, proferiu algumas palavras que ninguém soube
traduzir e de volta a consulente foi categórico: - Seu filho não está morto,
mas passeando num lugar distante daqui. Vou determinar a meu auxiliar, Caboclo
Vira-Mundo, para ir busca-lo e dentro de, no máximo, três dias, ele estará
novamente em sua companhia. "Na época participava das giras, o Sr. Antônio,
excelente médium, em cuja coroa vibrava o "seu" Vira-Mundo. Após
concentrar-se por ordem do Caboclo Ubatuba e sob a entoação do seu ponto
cantado, desceu no terreiro aquela Entidade, solicitando de imediato uma pemba
com a qual firmou seu ponto riscado aos pés dos atabaques, onde colocou a
fotografia do menino, levada pela família, subindo em seguida a ló (foi embora)
para dar cumprimento à missão. Notava-se nos olhos daquelas pessoas um misto de
desconfiança e esperança, retirando-se ainda bastante amarguradas.
Pois bem. Dois dias depois, um caminhão trafegava pelão
município de Guarujá, quando, repentinamente, uma pane no motor obrigou o
motorista a parar para uma averiguação. Tão logo estacionou, percebeu a
presença de um menino sentado na calçada, sujo, assustado e faminto; de
imediato o reconheceu, perguntando - "O que está fazendo por aqui.
Passeando?" - “Não - Esclareceu o garoto - eu me afastei um pouco de casa
e tentando regressar me perdi. Fui pedindo carona daqui para ali e terminei neste
lugar, onde não sei sequer o nome". O caminhoneiro mandou-o subir na
boleia e disse que o traria de volta, pois era seu vizinho e conhecia-lhe os
familiares.
Deu partida no veículo, rodou uns cinquenta metros e só
então se lembrou de não haver verificado o defeito que o obrigara a parar e, no
entanto, curiosamente, o caminhão rodava perfeitamente, sem apresentar qualquer
falha. Ficou perplexo com o acontecido, todavia, não chegou a ligar os fatos,
somente ao chegar em casa é que os familiares de Rodrigo comentaram haver ido
ao terreiro e talvez fora por imposição das entidades que o defeito se
apresentara, formando uma corrente de coincidências e culminando com a alegria
do reencontro.
Vejam, leitores, a responsabilidade da entidade afirmando
encontra-se o menino vivo e contradizendo a suposição do experiente delegado.
Fatos como este alimentam mais a nossa fé e nos fazem crer que no plano onde
nos encontramos somos muito vulneráveis e ignorantes, diante da Sabedoria do
Astral Superior.
Referências
Orphanake, J. Edson, Os Caboclos, Editora Pindorama, 1994
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