Sabemos que cada terreiro de Umbanda tem
seus fundamentos, sua direção, sua liderança, seus princípios, sua história e
suas particularidades tanto quanto nos rituais de culto quanto nas doutrinas
professadas. Sabemos também que não existe uma doutrina única da Umbanda, mas
podemos afirmar que ela tem suas raízes fundamentadas nos cultos de nação,
indígena, espírita e cristão, abrindo assim um leque de diversidades onde se
justificam todas essas diferenças. Então, devemos começar por respeitar essas
diferenças, pois para entendermos essas particularidades se faz necessário um
estudo detalhado das origens de cada casa. Hoje com o avanço da ciência e da
tecnologia, o homem mudou muito seus conceitos em relação ao mundo onde vive,
sobre si mesmo e o sobrenatural. Podemos ao simples toque de uma tecla, acessar
vários materiais divulgados nos diversos meios de mídias, onde vemos cada vez
mais exposto as particularidades de cada terreiro.
A facilidade a esse conteúdo, muita das
vezes, faz com que um terreiro acabe, mesmo que subjetivamente, influenciando
um ao outro, havendo assim uma troca de experiências e de conhecimentos, o que
de certo modo vem sendo muito importante para o crescimento da Umbanda. Esse
diálogo através da mídia vem se fundamentando cada vez mais, tornando-se raros
os grupos que se fecham não procurando estudar e aprender com essas
diversidades. Acreditamos que através desse diálogo e de um debate aberto, se
possa chegar a um consenso quanto a Doutrina da Umbanda e o respeito mútuo
entre seus praticantes. Os dirigentes de terreiros, que ainda não o fazem,
deveriam começar a dar a devida importância também aos estudos doutrinários,
para que o novo adepto tenha uma base sólida e bem desenvolvida, assim ele
próprio poderá discernir quanto o que é "certo" e o dito ”errado”.
Sem esse estudo, o adepto ficará sem fundamentos, sem bases, o que alimentará
ainda mais a ignorância e discórdia entre os umbandistas. Em muitos terreiros
ainda não existe um estudo teórico e fundamentado da religião. O que impera,
infelizmente, é que este estudo é desnecessário e que devemos apenas seguir as
orientações recebidas dentro do terreiro, essas que em sua maioria são somente
práticas, onde o adepto aprende através da vivência e da observação no
dia-a-dia de seus trabalhos na casa, ou conversando e tirando suas dúvidas com
os outros filhos do terreiro. Não se permite também, de forma alguma, que um
médium visite outro terreiro, justificado muita das vezes, pelo dirigente,
pelas demandas que enfrentarão. Assim vemos muitos terreiros ainda fechados a
preceitos antigos. Deixamos claro aqui que até concordamos em parte com essa
proibição, quando é pela falta de preparo do médium e/ou por ele ainda está em
fase de desenvolvimento. Por isso se faz necessário o estudo aprofundado da
Doutrina Umbandista, não como imposição, mas como um diálogo aberto. O adepto
deve sim seguir as orientações da casa, seus fundamentos, mas nada impede que
ele como forma de estudo pesquise todas as correntes, suas literaturas e
rituais. Essa pesquisa deve ser vista como forma de enriquecimento do saber, o
que certamente servirá para agregar valores aos fundamentos do médium e da
própria casa.
Vemos, na maioria das vezes, a Umbanda
sendo abordada em debates por dois aspectos: Razão e Emoção. Quando é abordada
pela Emoção utilizam-se a fé e a afinidade de pensamentos, se fechando assim a
outras abordagens e explicações tanto para os fenômenos quanto para os rituais.
Por outro lado, quando ela é abordada pela Razão se utilizam somente do
conceito lógico e científico para buscar essas explicações. As duas formas são
necessárias, mas se levadas ao extremo podem acarretar grandes problemas. Por
exemplo: quando nos deixamos levar somente pela Emoção, agimos de forma cega e
não admitimos ser contrariados, nos fechando a um fundamento e isto é
suficiente. O grande perigo é a proliferação do fanatismo religioso, onde pela
ignorância podemos ser levados ao erro, e só fazemos isso ou aquilo quando o
dirigente ou o mentor da casa disser para fazer. Em prática, isso nos leva ao
ostracismo, a obtusação e
a nos tornar marionetes ou meros fantoches nas mãos de pretensos sábios e donos
da verdade. Mas também pode ser muito perigoso agirmos somente com a Razão,
levando em consideração somente a lógica, o pensamento científico e a pesquisa
aprofundada na busca de uma explicação dos assuntos, pois levada ao extremo,
nos tornará materialistas e pretensos donos da verdade. É preciso então,
procurar um ponto de equilíbrio entre ambas, Razão e Emoção, sempre buscando,
com bom senso, as explicações e fundamentos com a cabeça aberta ao diálogo e ao
novo.
A Doutrina da Umbanda deve ser baseada
nesse equilíbrio, facilitando o conhecimento dos temas abordados e
solidificando a cada dia seus fundamentos. Não devemos estudar a Umbanda sem
levar em consideração todas as suas raízes, nos limitando somente a prática da
incorporação mediúnica, muito menos perder tempo discutindo os rituais
utilizados por este ou aquele terreiro. Devemos deixar esta questão para outro
estagio e nos aprofundarmos nas suas origens para assim construirmos convicções
sólidas baseadas na verdade, no amor e na caridade, pois só assim veremos os
rituais se modificando por si próprios.
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