A Umbanda, como já vimos, tem no
simbolismo um de seus fundamentos mais importantes e tem recorrido a ele desde
sua fundação. O simbolismo está tão visível, que todas as entidades que
trabalham na Umbanda são evocadas através de nomes simbólicos. Baseados também
neste simbolismo os campos de trabalho são divididos em linhas vibracionais,
conhecidas como “As Sete Linhas da
Umbanda”.
Todas as Escolas Iniciáticas sempre
consideraram o sete como um número cabalístico e sagrado, por isso ele está
sempre presente em toda sua simbologia. O Sete também é considerado o número da
“expansão e centralização” da unidade, pois é formado da soma do ternário com o
quaternário, resultando no “Setenário
Sagrado”. Para entender um pouco mais a Umbanda devemos conhecer suas
linhas ou campos vibracionais, que são na verdade sete irradiações divinas onde
cada qual flui em um grau vibratório próprio e dá sustentação a vida.
Mas para isso comecemos por esquecer de
conformar Deus a um senhor de barbas, e vê-lo simplesmente como “a forma
energética primeira” da qual se formaram todas as coisas e seres existentes.
Tudo no Universo é energia em estado de maior ou menor densidade e com
diferentes formas de montagens de seus átomos e moléculas. Após a chamada
Criação, o Deus Universal, ou essa energia primária, continuou a se desdobrar
em uma infinidade de energias que circulam por todo o Universo criado e não só
pelo planeta Terra, que não é nem nunca foi seu centro.
Se uma energia mãe
se desdobra, sempre há as primeiras energias que partem dela e que depois
também vão se desdobrando, interagindo e formando outros tipos de energia. Para
você entender melhor visualize o gráfico abaixo:
Podemos observar que se trata de um
gráfico que representa a refração da luz solar através de um prisma, onde ao
passar pelo prisma, a luz, anteriormente branca, se decompõe em diversas outras
cores sendo que as sete visíveis para nós estão aqui representadas. As três
primeiras cores que se formam são as que conhecemos como cores primárias, indivisíveis,
que são o azul, o amarelo e o vermelho. Todas as outras se formam pela ação
dessas três cores umas sobre as outras. Dessa forma o verde é composto pelo
amarelo com o azul, o laranja é formado pela soma do amarelo com o vermelho, o
violeta é formado pelo vermelho com o azul.
Assim como a luz ou a energia do Sol
supõe-se que essa energia mãe em seu processo de desdobramento decompõe-se
primeiramente em três energias primárias que posteriormente por interações
geram mais quatro energias que voltam a interagir entre si e entre as primárias
gerando outras energias. Tudo isso é para que você entenda o que é um Orixá e
como ele é visto pela Umbanda. Se fizermos uma analogia entre as cores da
refração solar e as energias primeiras que se supõe serem geradas pelo Criador,
as sete primeiras energias seriam os “Sete Primeiros Orixás” gerados, ou os
“Sete Raios” como são chamados em outras filosofias, ou as “Sete Vibrações
Originais”.
Cada Linha ou Vibração, ali representada,
equivale a um grande exército de espíritos afins que rendem “obediência” a um
“Chefe” ou um Líder, o qual representa para nós um Orixá ou Energia da
Natureza, e cabe a ele uma grande missão no espaço. Esse verdadeiro exército se
subdivide em sete grandes Legiões, que por sua vez se divide em sete Falanges,
que se subdivide em sete subfalanges e assim por diante, sempre cada qual com
seu respectivo “comandante”.
Este assunto, como a maioria na Umbanda, é
muito controverso, pois como sabemos, a Umbanda é formada por diversas
correntes de pensamento, cada qual com sua Doutrina e Fundamentos bem
específicos. Todavia, na sua manifestação mais popular sabemos que os
“Falangeiros” ou “Chefes das Falanges” são espíritos evoluídos que representam
diretamente os Orixás, suas forças são a emanação pura de suas energias. Sendo
assim, quando incorporados, mostram sua presença e sua força através de uma
roupagem fluídica que os representem. Suas irradiações divinas alteram nossos
sentimentos e nosso padrão vibratório, estimulando em nós sentimentos nobres e
virtuosos.
Os “Falangeiros” se agrupam em Linhas ou
Falanges que são conhecidas como as Sete Linhas da Umbanda, onde temos:
1ª - Linha de Oxalá: Que representa o
princípio a Fé, o reflexo de Deus, o verbo solar. É a luz refletida que
coordena ou se desdobra nas demais vibrações em suas manifestações na Terra,
por tanto não temos incorporações de Falangeiros de Oxalá na Umbanda, pois
todos somos filhos Dele. Suas irradiações da Fé nos estimulam a Religiosidade.
2ª - Linha de Yemọjá ou Linha do Povo D’água: Representa o
Amor e a Geração. Também trabalham nesta Linha as Orixás Oxum e Nanã
(Originalmente um Vodoo que foi incorporada
no panteão dos orixás yorùbá aqui no Brasil). Suas irradiações de
geração e de amor nos estimulam a maternidade, a fecundação e as uniões tanto
carnais quanto materiais.
3ª - Linha de Oxóssi: Representa o
Conhecimento, a Fartura e o Trabalho. Suas irradiações do conhecimento nos
estimulam o raciocínio. Suas falanges trabalham na doutrinação dos irmãos
sofredores e na cura através da medicina herbanária.
4ª - Linha de Xangô: Representa a
Justiça. É a linha que coordena as Leis Kármicas. Suas irradiações da Justiça
nos estimulam a razão.
5ª - Linha de Ogum: Representa a
Lei. É a linha mediadora que controla os choques consequentes da Lei do Karma e
as demandas da fé, das aflições, das lutas e batalhas da vida. Suas irradiações
da Lei nos estimulam a Ordem.
6ª - Linha de Ọmọlu/Ọbàlúwayè ou Linha do
Oriente:
Representa a Evolução e a Saúde. Suas irradiações da Evolução e da Saúde nos
estimulam o equilíbrio. Nem todos os espíritos que trabalham nesta Linha são
oriundos do povo oriental, ela abriga as mais diversas entidades, que a
princípio não se encaixavam na matriz formadora da Umbanda, a falange dos
Médicos é um exemplo delas.
7ª - Linha de Iansã ou Linha das Almas: Representa a
Maturidade, Humildade e a Bondade. É comandada por Iansã auxiliada por Ọmọlu.
Esta linha, como os próprios valores expressam, é composta dos primeiros
espíritos que foram ordenados a combater o mal em todas as suas manifestações.
Eles são a Doutrina e a Filosofia, em fundamentos e ensinamentos. São os
senhores da magia e da experiência adquirida através de seculares encarnações.
Temos também o cruzamento dessas Falanges, onde temos determinadas as qualidades
dos “Falangeiros”. Vejamos alguns exemplos:
Ogum Dele ou Delei é um Falangeiro de
Ogum que trabalha na Linha de Oxalá;
Ogum Beira-Mar, Ogum Sete Ondas, Ogum Yara
são Falangeiros de Ogum que trabalham na Linha das Águas;
Ogum Meje, Ogum Sete Espadas são
Falangeiros de Ogum que trabalham na Linha das Almas;
Ogum Rompe Mato é um Falangeiro de Ogum
que trabalha na linha de Oxóssi.
Esses nomes simbólicos são um recurso
utilizado pelas entidades na Umbanda para identificar qual nível vibracional
atuam cada um desses espíritos e por qual Orixá ele é regido. Assim temos
Falangeiros e entidades trabalhando em todas as Linhas, cada qual com seu nome
e simbolismo próprio.
Podemos observar várias entidades se
identificando como: Caboclo Rompe Mato, Caboclo Pena Branca, Caboclo Cobra
Coral, isso não quer dizer que é a mesma entidade ou o mesmo espírito, e sim
entidades que trabalham em um mesmo campo vibracional. Em alguns terreiros, por
falta de conhecimento e vaidade, é corriqueiro acontecer de no templo já ter um
Caboclo, ou um Preto Velho, ou um Exu manifestando-se com um determinado nome e
caso um novo médium manifeste uma entidade que se identifique com o mesmo nome,
o médium mais velho reage negando a veracidade da nova manifestação, pois se
sente o “dono” de tal entidade, chegando às vezes a expulsar o novo guia taxando-o
de mistificador, quiumba ou até mesmo um impostor. Na Umbanda, os Falangeiros,
guias ou protetores, e todas as entidades que fazem parte de sua corrente
astral que trabalham dentro das Sete Linhas também são divididos em Linhas de
Trabalho conhecidas como Linha da Direita e Linha da Esquerda, onde temos:
Linha de Direita: Os Falangeiros
dos Orixás, os Pretos-Velhos, os Caboclos, os Boiadeiros, as Crianças, os
Marinheiros, os Baianos e os Orientais.
Linha de Esquerda: O Povo de Rua,
espíritos guardiões, que são os Exus, Pomba-gira, Ciganos e Malandros.
A Umbanda por ser considerada no Astral um
Ritual de ação positiva à humanidade atrai milhares de espíritos sedentos para
trabalhar em suas searas em benefício do próximo. Esses espíritos são
doutrinados e dirigidos a uma das linhas de trabalho de acordo com seu campo
vibracional, segundo a Lei das Afinidades. Sendo assim, nem todas as entidades
que manifestam nos Terreiros como Pretos Velhos, por exemplo, foram
necessariamente negros e escravos, como nem todos os Caboclos foram
necessariamente índios, são apenas uma roupagem fluídica simbólica, uma
homenagem a esses povos que contribuíram para a formação do povo brasileiro. Os
espíritos se utilizam desse simbolismo nas manifestações para afastar a vaidade
dos médiuns, pois a eles, entidades, só interessam a caridade e o amor ao
próximo, e não quem foram ou o que fizeram, ou até mesmo que título tiveram em
suas encarnações passadas.
Não se incomodam em manifestar-se de uma
forma humilde e simples. Nesses grupos de espíritos não há distinção de raças,
origem religiosa ou títulos terrenos, neles o que impera é a beleza da Alma, o
valor do caráter. Amam a todos e sabem que a carne é somente um veículo
transitório. Uma gira de Umbanda é uma verdadeira aula de humildade e
desprendimento, o que a nós deve interessar saber é que todos têm algo a nos
ensinar, independentemente de sua origem. Devemos ter a consciência de que eles
nos auxiliam no que for permitido pela Lei Maior e no que for de nosso
merecimento e não para suprir nossas futilidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário