Por Manoel Lopes
Cantamos
e ouvimos falar muito sobre as sete linhas da umbanda, mas poucas pessoas
compreendem e conhecem a origem histórica das sete linhas da umbanda.
Neste
artigo iremos nos aprofundar no estudo da origem das sete linhas da umbanda e
também apresentaremos a visão doutrinária do Núcleo Mata Verde sobre as sete
linhas.
Sabemos
que a Umbanda, como um culto organizado, começou em Niterói/RJ no início do
século XX, tendo como data oficial da primeira reunião o dia 16 de novembro de
1908.
Todos os
documentos históricos indicam que o jovem Zélio de Moraes foi o responsável
pelo início da umbanda.
Zélio de
Moraes
Zélio
fundou a primeira Tenda de Umbanda do Brasil, a Tenda Espírita Nossa Senhora da
Piedade, fundou as primeiras sete Tendas de Umbanda que teriam a
responsabilidade de divulgar a ampliar a religião em solo brasileiro; criou o
primeiro jornal de umbanda, a primeira federação de umbanda e também foi um dos
organizadores do primeiro congresso de umbanda realizado em 1941.
Em sua
vida teve oportunidade de divulgar a umbanda de norte a sul do nosso país.
Neste
artigo não vamos entrar em maiores detalhes sobre a origem da umbanda, mas
todas as informações acima são fundamentadas em livros, atas, estatutos
registrados em cartório, gravações de vídeo e áudio.
A origem
da umbanda com Zélio de Moares, não é somente um mito, um “achismo”, como
alguns afirmam, mas fruto de pesquisa de muitos estudiosos, escritores,
pesquisadores e umbandistas sérios.
Em outra
oportunidade estaremos estudando com maiores detalhes, a origem da umbanda,
apresentando documentos e registros históricos, caso haja interesse poderão
fazer o curso a distância (EAD) oferecido pelo Núcleo Mata Verde no site www.mataverde.org
Sabemos
que a umbanda teve seu início em 1908, mas, e as sete linhas da umbanda?
Elas
sempre existiram?
Quem
elaborou as sete linhas da umbanda, foram os Orixás, os espíritos, os
dirigentes umbandistas, os escritores?
Qual foi
a primeira apresentação (codificação) das sete linhas da umbanda?
Quais as
visões existentes?
Quais são
as sete linhas da umbanda segundo a doutrina dos Sete Reinos Sagrados, ensinada
pelo Caboclo Mata Verde e seguida no Núcleo Mata Verde?
Estas são
algumas das perguntas e esclarecimentos que pretendemos desenvolver neste texto
doutrinário.
O Início
Sabemos
que foi o Caboclo das Sete
Encruzilhadas o espírito responsável pela organização da umbanda,
orientando logo na primeira reunião como seria esta nova religião, como seriam
os trabalhos espirituais, o uniforme utilizado, o horário de início e término,
os estudos etc.
Era o
Caboclo que orientava e dava todas as determinações, por isso era chamado pelos
integrantes da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade de CHEFE.
Além do
Caboclo das Sete Encruzilhadas, logo na primeira reunião se manifestou outro
espírito chamado Pai Antônio, um Preto Velho.
Estes
dois espíritos foram os iniciadores do que conhecemos hoje como religião de
umbanda, um CABOCLO e um PRETO VELHO.
Somente
em 1913 (passados cinco anos do inicio da religião) é que Zélio de Moraes
começa a trabalhar com a entidade conhecida como Orixá Mallet.
É importante deixar registrado que até esta
data (conforme gravação de áudio do próprio Zélio de Moraes) o nome da nova
religião era ALABANDA.
Segundo
Zélio de Moraes nome original da religião foi Alabanda, onde Alá é uma palavra
árabe que significa “Deus” e banda significando “do lado de”.
Logo,
Alabanda significa do lado de Deus. Esse nome foi dado pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, como uma homenagem ao Orixá Mallet, que era malaio e muçulmano
(Alá é a forma como os muçulmanos chamam Deus).
Portanto
até esta data não se falava em “SETE LINHAS DA UMBANDA”, também não existia na
umbanda crianças, exus, pomba gira, ciganos, baianos e outras linhas conhecidas
atualmente.
Qual foi a primeira Sete Linhas da Umbanda?
Leal de
Souza
Somente
em 1925 (passados dezessete anos do início da umbanda) é que o senhor Leal de Souza em entrevista a um
jornal do Paraná, chamado “Mundo Espírita” apresenta pela primeira vez uma
codificação das Sete Linhas da Umbanda.
Leal de Souza era escritor, jornalista e redator chefe do
jornal “A Noite” do Rio de Janeiro; foi um participante ativo e dedicado,
durante 10 anos, da Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade e amigo de Zélio de Moraes.
Afastou-se
da Tenda Nossa Senhora da Piedade, sob as ordens do Caboclo das Sete Encruzilhadas,
para fundar a Tenda Nossa Senhora
da Conceição.
Em 1932 é
convidado para escrever uma série de artigos sobre Espiritismo e Umbanda e
novamente apresenta as Sete Linhas da Umbanda.
Em 1933
publica o primeiro livro a falar sobre a umbanda: “O Espiritismo, a Magia e as Sete
Linhas da Umbanda”.
Segundo
Leal de Souza, que vivia a umbanda em sua origem, as Sete Linhas da Umbanda
eram:
1) Oxalá
2) Ogum
3) Oxossi
4) Xangô
5) Iansã
6) Iemanjá
7) As
Almas
Em 1941
(passados 33 anos da fundação da umbanda) é realizado no Rio de Janeiro o Primeiro Congresso Brasileira de Umbanda e
neste congresso é ratificado as sete linhas da umbanda.
As linhas
são chamadas de “Pontos da Linha branca de umbanda” ou graus de iniciação e
são:
1º Grau
de iniciação – Almas
2º Grau
de iniciação – Xangô
3º Grau
de iniciação – Ogum
4º Grau
de iniciação – Iansã
5º Grau
de iniciação – Oxossi
6º Grau
de iniciação – Iemanjá
7º Grau
de iniciação – Oxalá
Reparem
que os Sete Pontos ou Graus de iniciação confirmados no Primeiro Congresso
Brasileira de Umbanda (1941) são as Sete Linhas da Umbanda apresentadas por
Leal de Souza em 1925.
É neste
primeiro congresso de umbanda que a Tenda Mirim apresenta um trabalho sugerindo
que o nome da religião seria Aumbandã.
Em 1942
Lourenço Braga publica sua tese chamada “Umbanda e Quimbanda”, no qual apresenta o primeiro esquema
formulado e pensado das sete linhas da umbanda com sete legiões para cada
linha, também marca seu pioneirismo na apresentação da LINHA DO ORIENTE e das sete
linhas da Quimbanda:
1) Linha
de Santo ou de Oxalá – dirigida por Jesus Cristo
2) Linha
de Iemanjá – dirigida por Virgem Maria
3) Linha
do Oriente – dirigida por São João Batista
4) Linha
de Oxossi – dirigida por São Sebastião
5) Linha
de Xangô – dirigida por São Jerônimo
6) Linha
de Ogum – dirigida por São Jorge
7) Linha
Africana ou de São Cipriano – dirigida por São Cipriano
Em 1952
(após 44 anos do inicio da religião) o Primado de Umbanda, ente federativo que tem como seu Primaz o
Senhor Benjamim Figueiredo, responsável pela Tenda Mirim apresenta sua doutrina
e os Sete Seres Espirituais responsáveis pela luz espiritual emanada de Deus, o
primeiro elo entre Deus e as outras hierarquias espirituais.
Em nosso
sistema solar, os chamados Orixás Maiores regem as Sete Linhas da Umbanda:
1)
Orixalá
2) Ogum
3) Oxossi
4) Xangô
5) Yori
má (Iofá, Obaluaê)
6) Yori
(Ibeji – Erês – Crianças)
7)
Iemanjá
Em 1955
Lourenço Braga publica o livro “ UMBANDA
E QUIMBANDA – VOLUME 2”, onde apresenta a seguinte distribuição, onde
atribui a cada linha um Arcanjo como responsável e relaciona com os planetas:
1) Linha
de Oxalá ou das almas – Jesus – Jupiter
2) Linha
de Yemanjá ou das águas –Gabriel – Vênus
3) Linha
do Oriente ou da Sabedoria – Rafael – Urano
4) Linha
de Oxossi ou dos vegetais – Zadiel – Mercurio
5) Linha
de Xangô ou dos minerais –Oriel – Saturno
6) Linha
de Ogum ou das demandas – Samael – Marte
7) Linha
dos Mistérios ou encantamentos – Anael – Saturno
Em 1956
W.W.Mata e Silva apresenta no livro “Umbanda de Todos Nós” as sete linhas da
Umbanda:
1)
Orixalá
2)
Iemanjá
3) Yori (Crianças)
4) Xangô
5) Ogum
6) Oxossi
7) Yori
má (Linha das Almas, Pretos Velhos)
Notamos
que foi a partir da década de cinquenta que os estudiosos retiram das sete
linhas a vibração de Iansã e substituem pela Yori (Crianças).
Em 1964
no livro “Okè Caboclo – Mensagens do Caboclo Mirim”, de Benjamim Figueiredo
fundador da Tenda Mirim, os Orixás se dividem em menores e maiores, sendo estes
últimos os regentes das sete linhas:
1) Oxalá
(Inteligência)
2)
Iemanjá (Amor)
3) Xangô
Caô (Ciência)
4) Oxossi
(Lógica)
5) Xangô
Agodô (Justiça)
6) Ogum
(Ação)
7) Iofá
(Filosofia)
Em 2003,
Rubens Saraceni, apresenta uma nova organização no livro “Sete Linhas da Umbanda – A Religião dos
Mistérios”:
1) Oxalá
– essência cristalina – fé
2) Oxum –
essência mineral – amor
3) Oxossi
– essência vegetal – conhecimento
4) Xangô
– essência ígnea – justiça
5) Ogum –
essência aérea – lei
6)
Obaluaiê – essência telúrica – evolução
7)
Iemanjá – essência aquática – geração/vida
2009 no
livro “Manual Doutrinário, Ritualístico e Comportamental Umbandista”, Rubens
Saraceni, traz a seguinte ordenação:
1) Oxalá
2) Ogum
3) Oxossi
4) Xangô
5) Oxum
6) Obá
7) Iansã
8)
Oxumaré
9)
Obaluaê
10) Ọmọlu
11) Nanã
12) Oiá
Tempo
13)
Egunitá
14) Exu
15) Pomba-Gira
Em 2010,
Janaina Azevedo Corral, no livro “As Sete Linhas da Umbanda”, traz a seguinte
apresentação:
1) Linha
de oxalá
2) Linha
das Águas
3) Linha
dos Ancestrais (Yori e Yorimá)
4) Linha
de Ogum
5) Linha
de Oxossi
6) Linha
de Xangô
7) Linha
do Oriente
Além das
codificações citadas acima, existem outras.
Estas
codificações tentam explicar ou justificar como e porque, os espíritos se
manifestam com determinadas características, porque possuem preferência por
determinadas cores, nomes, regiões da natureza (praia, montanhas, matas,
cemitérios etc....) e demais afinidades.
Todos
estes escritores e pesquisadores umbandistas, inspirados por seus mentores,
observaram, estudaram e de acordo com suas observações agruparam as entidades
espirituais em linhas, que foram em determinadas épocas separadas em falanges,
legiões etc.
Agora
vamos conhecer como trabalhamos no Núcleo Mata Verde.
Núcleo
Mata Verde
Seguimos
uma doutrina chamada UMBANDA – OS
SETE REINOS SAGRADOS, que resume os ensinamentos do Caboclo Mata Verde.
Seus
conceitos são simples e racionais; podemos afirmar com toda certeza que
simplicidade e racionalidade são as bases da doutrina.
Não vamos
nos aprofundar nos detalhes dos fundamentos da doutrina, devido ao tamanho
deste texto, mas recomendamos aos interessados o estudo a distância promovido
pelo Núcleo Mata Verde no sitewww.mataverde.org/ead
Alguns
princípios:
1)
vivemos no planeta Terra e somos filhos do planeta.
2) Os
Orixás primordiais participaram da formação e evolução do planeta, cada qual
com sua responsabilidade. Muitos são os Orixás.
3). Para
efeito de estudo dividimos a formação do planeta, nestes quase 5 bilhões de
anos em fases, que chamamos de reinos.
4).
Existem sete reinos com características bem definidas.
5). Cada
reino tem suas características próprias, seus orixás regentes, suas vibrações e
qualidades e sua cor conforme se apresenta na natureza.
6). Tudo
o que existe no planeta possui em sua constituição estas sete vibrações
primordiais. Este princípio, num segundo momento, pode ser estendido para todo
o universo como uma lei universal.
7). Estas
sete vibrações são de natureza material e espiritual.
8). As
pessoas, as plantas, os animais, a matéria, os espíritos e tudo o que existe
possuem as sete vibrações primordiais, mas podem possuir uma afinidade maior
com algumas vibrações, o que acarreta a individualização de sua natureza.
9) A Lei
da afinidade vibracional (Espiritual) é um ponto fundamental da doutrina dos
sete reinos sagrados
10). É
esta individualização que justifica a manifestação de espíritos em falanges,
legiões ou linhas.
11) O
processo evolutivo do planeta Terra apresentado na doutrina é o mesmo processo
aceito pela ciência oficial.
Após
estas considerações apresentamos abaixo os sete reinos sagrados:
1) Reino do Fogo – regido
por Ogum (É o primeiro, aquele que abre os caminhos) – vermelho
2) Reino da Terra –
regido por Xangô – marrom
3) Reino do Ar – regido
por Iansã – amarelo
4) Reino da água – regido
por Iemanjá – azul claro
5) Reino das matas –
regido por Oxossi – verde
6) Reino da Humanidade –
regido por Oxalá – branco
7) Reino das Almas –
regido por Ọmọlu – preto
É
interessante chamarmos a atenção para a semelhança existente entre os sete
reinos e seus orixás regentes, com a primeira codificação apresentada por Leal
de Souza.
Seria
somente uma coincidência?
Lembramos
que não podemos confundir reinos e suas vibrações com Orixás.
Trabalhamos
com sete reinos, mas a doutrina não limita a quantidade de Orixás existentes.
Alguns
Orixás possuem afinidades com um reino, outros com dois ou mais reinos e este o
motivo de sua individualidade. Este conceito se aplica a todos os espíritos que
se manifestam na umbanda.
Não
interessa se o espírito se manifesta como uma criança, um adulto ou um velho;
se é mulher ou homem; não interessa se é um baiano, boiadeiro, marinheiro,
cigano, malandro, mendigo, semiromba, um falangeiro, um exu etc....
Não interessa
se ele se apresenta como negro, branco, amarelo ou vermelho; ele sempre terá
afinidades com um ou mais reinos e são estas características que trabalhamos no
Núcleo Mata Verde.
Os
espíritos podem trabalhar em mais de um reino, por exemplo, um OGUM SETE ONDAS, é um espírito que
trabalha com o REINO DO FOGO (Ogum)
e com REINO DA ÁGUA (Iemanjá).
Um OGUM MEGÊ é um espírito que
trabalha com as vibrações do REINO
DO FOGO (Ogum) e do REINO
DAS ALMAS (Ọmọlu).
Não
trabalhamos diretamente com o conceito de linhas, como mencionado acima, mas se
fossemos apresentar os espíritos por linhas, seriam as seguintes:
1) Linha
do Fogo – regida por Ogum
2) Linha
da Terra – regida por Xangô
3) Linha
do Ar – regida por Iansã
4) Linha
da água – regida por Iemanjá
5) Linha
das Matas – regida por Oxossi
6) Linha
da Humanidade – regida por Oxalá
7) Linha
das Almas – regida por Ọmọlu
São
Vicente, 24/07/2011
Manoel Lopes – Dirigente
do Núcleo Mata Verde
Bibliografia:
1)
Umbanda Os Sete Reinos Sagrados – Manoel Lopes – Ícone Editora
2)
Umbanda Um Século de História – Diamantino Fernandes Trindade – Ícone Editora
3)
História da Umbanda – Alexandre Cumino – Madras Editora
4)
Umbanda de Todos Nós – W. W. Matta e Silva
5) Curso
Essencial de Umbanda – Ademir Barbosa Junior – Universo dos Livros
Obs.:
Divulgue à vontade este texto, somente não esqueça de citar a fonte